Archive for the ‘Problemas Urbanos’ Category

Vexame Internacional

12 de fevereiro de 2014

A revista francesa FRANCE FOOTBALL – www.francefootball.com – publicou na semana que passou reportagem sobre a Copa no Brasil. O título da matéria “Peur sur le Mondial”, pode ser traduzido como “Medo do Mundial”.

O conteúdo da matéria é de fazer corar de vergonha qualquer um que tenha o mínimo conhecimento do que ocorre atualmente no Brasil. A reportagem aponta o mesmo engodo que muitos brasileiros engoliram: “Atingido por uma crise econômica e social, o Brasil está longe de ser aquele paraíso imaginado pela FIFA para organizar uma Copa do Mundo. Para a FIFA a Copa no Brasil passou a ser fonte de angústia”.

Alguns fatos que a reportagem de 12 páginas aborda:

– Foi o Brasil que procurou a FIFA e fez a proposta de sediar a Copa;

– Tudo no país se desenvolve a base de propinas;

– Membros do alto escalão do governo Lula estão presos por corrupção. Mesmo assim, artistas e grande parte da população pregam que eles são inocentes e fazem campanhas para recolher dinheiro para eles;

– Tudo o que está errado no Brasil é “culpa da FIFA”. Antes a culpa era dos EUA. Portugal já foi culpado também. Mas a culpa nunca é dos brasileiros; – A carga tributária do Brasil é maior que a da França. Mas os serviços públicos são péssimos, do nível do Congo;

– O Brasileiro dá mais importância ao futebol do que à política;

– A FIFA busca não associar-se a ditaduras. Excluiu a África do Sul na época do Apartheid, recusou a candidatura da China, mas aceitou a proposta do Brasil para sede da Copa, mesmo o país flertando com ditaduras;

– O Brasil foi o país que teve mais tempo para preparar o mundial: sete anos. Mesmo assim, o cronograma está totalmente atrasado;

– Jérome Valcke, secretário geral da FIFA, criticou os atrasos. O governo brasileiro simplesmente recusou-se a continuar tratando com ele;

– A África do Sul teve cinco anos de prazo e terminou com antecedência. A França teve apenas três anos. Há três meses da Copa, o Brasil ainda está longe do término das obras;

– O custo de cada estádio no Brasil em média é de mais de 500 milhões de euros. O dinheiro sai do bolso do Brasileiro. Tudo é financiado com recursos públicos. Na França tudo foi financiado com recursos privados;

– Em Brasília está sendo construindo um Estádio para 68.000 pessoas. Mas o time local está na quarta divisão e tem média de público de 600 pagantes; – Em São Paulo há dois grandes estádios, Morumbi e Pacaembú. Ao invés de reformá-los, construíram um 3o. estádio, o Itaquerão, a 23km do centro da cidade, sem metrô até lá. Isso para satisfazer o ex-presidente Lula, torcedor do Corinthians. Lula empenhou-se pessoalmente para que construíssem este estádio – de seu clube – em vez de reformar um dos outros dois já existentes. Lula é amigo de Marcelo Bahia, Diretor da Odebrecht, vencedora da licitação. Uma reforma dos outros dois estádios custaria menos de 100 milhões de Euros. O novo estádio foi orçado em 300 milhões de euros, mas já passou de 500 milhões. Um dos mais caros da história da humanidade. Lula e Marcelo são constantemente vistos em caríssimos restaurantes de Paris, tomando bons vinhos franceses;

O Brasil é autossuficiente em petróleo e está ao lado de países da OPEP, como Venezuela e Equador. Mas a gasolina é uma das mais caras do mundo, de péssima qualidade, misturada com etanol e solvente de borracha;

– O brasileiro defende o monopólio do petróleo. É o único país do mundo onde os consumidores acham que o monopólio é bom para o consumidor;

– Um hotel em São Paulo custa em média 40% mais do que se hospedar em um hotel equivalente em Paris;

– O Brasil adotou um sistema de tomadas elétricas que só existe lá, gerando um custo de milhões para os consumidores e lucros fabulosos para empresas do setor. Leve um adaptador de tomadas;

A reportagem conclui: “UMA VERGONHA INTERNACIONAL mas o brasileiro está muito feliz de ser pentacampeão de futebol. Nos corredores da FIFA já se admite que foi o maior erro da história da Instituição eleger o Brasil como sede”.

Dá para discordar?

Venezualização?

5 de fevereiro de 2014

Embora possa parecer um problema restrito a Porto Alegre, é bastante sintomático o que se viu até agora na greve dos rodoviários.

Centrais adversárias levam a disputa de poder dentro de um sindicato ao desrespeito de um acordo firmado no âmbito do Judiciário. Partidos da extrema esquerda mobilizam e radicalizam os grevistas nos bastidores. O governo estadual representado pelo senhor Tarso Genro recusa o pedido da prefeitura municipal do uso da Brigada Militar para garantir a circulação dos ônibus que atenderiam à população que segue desassistida. Depredações, desobediência civil.

O quadro alarmante pode ser colocado ao lado do que se vê no restante do país.

O dinheiro jogado fora com despesas além da conta para fazer estádios. Manifestações contra a copa num país de fanáticos por futebol, o que seria difícil de imaginar alguns anos atrás.

A inflação crescente com evidentes sinais de descontrole. Sintomas de bolha de crédito. Descontrole de gastos com a péssima gestão das contas públicas. Déficit nominal. Carga tributária cada vez mais alta.

Eterna tentativa de controle do Congresso via cofres públicos e distribuição de cargos no executivo. Controle das eleições por meio dos bolsas-miséria.

O aumento descontrolado da violência nas regiões metropolitanas. Crise econômica gerando maior custo de vida e descontentamento individual. Esgotamento do modelo político e econômico. Cenário de instabilidade, radicalização e cada vez mais corrupção.

A lembrança das várias obras prometidas que não saíram do papel.

Os investimentos na infraestrutura carente que não foram feitos enquanto o país torra dinheiro no exterior com gastos absurdos em viagens oficiais e obras que nenhum retorno trarão, como o porto cubano.

Investidores externos fogem de um Brasil caro, corrupto, politicamente subdesenvolvido e ineficiente para produzir e crescer de verdade.

Pessimismo? Onde tudo isso irá parar?

Dilma Rousseff tentará resistir às pressões programadas para infernizar sua pretensão de reeleição amparada pelos estimados US$ 2 bilhões que o esquema já conseguiu arrecadar para torrar em 2014.

Será o tórrido verão prenúncio de um ano “quente” inverno adentro?

Quem viver verá.

O Velho Meneghetti

14 de maio de 2012

Jornalista Rogério Mendelski faz uma bela referência ao livro “Baile de Cobras – A Verdadeira História de Ildo Meneghetti” em sua coluna no Correio do Povo deste domingo, 13.05.2012.

 

A transcrição é a seguinte:

O Velho Meneghetti

Assim era tratado o ex-governador Ildo Meneghetti por todos os gaúchos que privaram com ele, especialmente depois que ele deixou o governo, em janeiro de 1967. “O velho Meneghetti”, quando era citado desta maneira, trazia uma entonação vocal como nós damos ao “velho”, quando nos referimos aos nossos pais. “O velho Oswaldo”, diria o colunista, “era um excelente cozinheiro e nunca estava com mau humor”. Pois o livro “Baile de Cobras”, escrito pelo seu neto Enio Meneghetti, lançado na última segunda-feira, é um perfil do ex-governador que os gaúchos estavam esperando já faz algum tempo. Não se trata de uma ode na qual o neto elogia o avô, mas de um depoimento pleno de fatos importantes da vida política do RS da metade do século passado. O que enriquece “Baile de Cobras” não é somente a farta documentação da época com reproduções dos jornais (destaque para os jornais da Caldas Júnior), mas os detalhes do dia a dia de um homem cuja simplicidade o fazia dirigir o próprio carro quando era prefeito, refletindo uma honestidade nata que, nos dias de hoje, poderia ser considerada de ingênua diante do oceano de patifarias e de roubalheiras que se tornaram “métodos” e “programas” de governo. Um pequeno trecho narrado logo no início do livro provoca no leitor aquela vontade de não parar mais de lê-lo. Prefeito de Porto Alegre em seu segundo mandato, Meneghetti inaugurou, ao lado do presidente Getúlio Vargas, um conjunto habitacional no bairro Sarandi. Após o ato, Meneghetti entregou a Getúlio um cheque. “O que é isso, Meneghetti?”, perguntou o presidente. “É o dinheiro que sobrou da construção das casas”, respondeu. E o presidente, então, não resistiu: “Ora, é a primeira vez que vejo sobrar dinheiro de obras públicas”. Meneghetti: “É que aqui nós aplicamos as verbas na obra mesmo…”.

 
Reclama ao Menega (1)


Como prefeito, Meneghetti dirigia o seu automóvel particular, um Nash Rambler. Na estrada para Belém Novo, na companhia do vereador Braga Gastal, foi apertado por um ônibus da então DATC, autarquia municipal. Meneghetti ultrapassou, “fechou” o coletivo e saiu advertindo o motorista: “Seu mal-educado, onde já se viu dirigir assim? Poderia ter causado um acidente”. “Olha aqui, velhinho, se não tá satisfeito, vai reclamar com o Menega”, retrucou o motorista. “Mas o Meneghetti sou eu!”. “Brincadeira tem hora, velhinho. Tira o carro da frente que eu quero passar”.

Reclama ao Menega (2)


O vereador Braga Gastal aproximou-se e mostrou ao motorista quem era o cidadão. Meneghetti tirou o chapéu, foi reconhecido pelo motorista que ficou branco de susto. O prefeito, então, deu-lhe uma ordem: “O senhor, por favor, apresente-se amanhã na prefeitura, às 10 h”. No dia seguinte, lá estava o motorista. Meneghetti, que já tinha esquecido o incidente, recebeu o funcionário, perguntou-lhe sobre sua família (“mulher e quatro filhos”, informou o motorista). “Menega abriu a carteira, tirou algumas notas de cruzeiros, e fez-lhe uma recomendação: “Dê este presente aos meninos que eu mando, mas nunca mais faça aquilo, está bem?”.  

O Estádio Olímpico e os Projetos Habitacionais‏

5 de outubro de 2011

Então, em seqüência ao post anterior,  o Inter desde 1931 tinha seu Estádio dos Eucaliptos. 

 

O Grêmio permanecia no Estádio da Baixada dos Moinhos de Vento que, com a popularização do futebol, havia se tornado pequeno e não tinha como ser expandido no local onde se encontrava.  Ficava junto a Mostardeiro, à direita de quem descia a baixada que lhe emprestava o nome, onde hoje está parte do leito da II Perimetral.

 

Precisando de um local para erguer um novo estádio, o presidente gremista, Saturnino Vanzelotti, foi procurar a prefeitura. O prefeito era Ildo Meneghetti, que vencera o jovem líder trabalhista, Leonel Brizola, nas eleições de 1951.

 

Assim como em São Paulo já havia o Estádio Municipal do Pacaembú e o Rio teria, antes da Copa de 50, o Maracanã, havia o projeto de um Estádio Municipal em Porto Alegre no Plano de Urbanização de Loureiro da Silva, de 1943.  Tinha inclusive a área já definida, na Medianeira.

 

                                       Estádio Municipal

 

Dos entendimentos com a prefeitura, acabou sendo acertada com o Grêmio a permuta da área da baixada pelo local onde hoje está o Estádio Olímpico, na Avenida Carlos Barbosa. 

 

Desde o início de sua gestão, o prefeito debruçara-se sobre o problema crescente da falta de moradias populares. Já proliferavam as sub-habitações e o problema se agravava. Criou então um departamento específico na prefeitura para tratar da questão habitacional.

 

Com a definição da construção do Estádio do Grêmio no local e a prevista valorização dos terrenos lindeiros, pertencentes ao município, o prefeito enviou para a Câmara de Vereadores um projeto que autorizaria o Executivo a vender as áreas adjacentes, que loteadas e assim valorizadas, teriam os montantes apurados destinados obrigatoriamente à aquisição de áreas mais amplas, apropriadas à habitação popular.       

 

 

 

E assim, casualmente o prefeito, Patrono do Internacional, acabou tendo participação na história da construção do Estádio Olímpico, do rival Grêmio. 

Que, por outra coincidência, também era uma área muito próxima de onde localizara-se a antiga Chácara dos Eucaliptos, arrendada pelo Inter até meados de 1929.

Ressalte-se a atitude da Câmara Municipal, que aprovou um bom projeto, quando o mais comum em tempos recentes, seria torpedear um projeto proposto por adversários políticos…  

 

Nessa segunda gestão de Meneghetti como prefeito, foram produzidas e comercializadas, em uma Porto Alegre que contava ainda com menos de 400.000 habitantes, 4.469 unidades habitacionais. Foram 693 casas na Vila Batista Xavier, 994 no Sarandi, 1009 na Vila São José – no Partenon, 812 no Passo das Pedras, 713 no Parque Santa Anita. Eram casas populares, simples, de madeira, mas bem construídas. Eram vendidas a preços módicos e longos prazos para pagamento.  Muitas das casas estão de pé até hoje, passados quase sessenta anos.

 

 

 

Muitas das vilas que se denominaram depois São Gabriel, Batista Xavier, São José, Sarandi, Passo das Pedras, Vila Vargas eram chamadas, por seus moradores de Vilas Meneghetti. E na implantação de tais vilas, Meneghetti era o prefeito, o engenheiro, o urbanista, o assistente social. Participava da elaboração dos projetos, visitava e fiscalizava as obras pessoalmente. Nessas visitas ouvia a população, conversava, opinava. Nestes contatos, sem nenhum rigor de protocolo, confirmava sua impressão sobre a necessidade das demandas. Sem demagogia, sem exibicionismo, sem populismo.

 

Foi uma iniciativa pioneira. Até então, nunca uma prefeitura havia intercedido na questão dessa forma. 

 

Uma ocasião, na solenidade de entrega de um lote de casas construídas com o auxílio de verbas federais, convidado, compareceu Getúlio Vargas.  Meneghetti entregou ao presidente um cheque:

 

– O que é isso, Meneghetti?  – perguntou Getúlio, ao receber o cheque.

– Este é o dinheiro que sobrou da construção das casas.

– Ora, é a primeira vez que vejo sobrar dinheiro de obras públicas. – espantou-se Getúlio.

– É que aqui nós aplicamos o dinheiro na obra mesmo…
                  ZH  25/07/1999 – Meneghetti recebe Getúlio Vargas e Loureiro da Silva em 1953  

Mas o interessante mesmo, é que aqui eram os clubes, por seus dirigentes e torcedores, que resolviam seus problemas e construiam seus estádios. Enquanto em outros lugares, o poder público construía e pagava a conta.

 

Nota: para escrever este post, utilizei dados do livro “Baile de Cobras – A Verdadeira História de Ildo Meneghetti” – em edição.  

A Estrada da Pedreira e o Estádio dos Eucaliptos

28 de setembro de 2011

Dias atrás vinha descendo a Plinio Brasil Milano, da Carlos Gomes em direção à Auxiliadora.
 
O carro chacoalhava tanto que resolvi prestar atenção ao pavimento. E, para minha surpresa, entre os muitos remendos de centenas de buracos abertos e mal fechados com asfalto irregular, vi um antigo piso de concreto preservado, velho conhecido, que julgava extinto das ruas de Porto Alegre.
 
Bem junto ao antigo Posto Timbaúva, naquelas curvas em “S” que há na descida, o piso em chapas de concreto junto ao acesso do posto de gasolina (hoje sob a bandeira da BR Distribuidora) permanece lá, como colocado na época da pavimentação da Estrada da Pedreira, há mais de sessenta anos, como se chamava a Plínio Brasil Milano até então.  
 

 

 


Digo que o piso é velho conhecido porque a primeira empresa a importar uma máquina pavimentadora em chapas de concreto, no final dos anos vinte do século passado, foi a Dahne, Conceição & Cia*, fundada por três colegas engenheiros, um deles meu avô Ildo Meneghetti, muitos anos antes de aventurar-se em política e eleger-se prefeito de Porto Alegre e depois governador do Estado.
 
Lembro da história da aquisição dessa máquina devido à construção do Estádio dos Eucaliptos, do Internacional.
 
O Inter tinha em 1929 seu próprio campo arrendado, a Chácara dos Eucaliptos, na Azenha.
 
A situação não era nada boa. O clube estava atolado em dívidas e até o aluguel da chácara estava atrasado. Não tinha dinheiro nem para pagar a conta de água.
 
Situada no início da José de Alencar, a Chácara dos Eucaliptos pertencia ao Asilo da Providência. Tinha uma alameda de eucaliptos, que servia de estrutura para as arquibancadas de madeira, deixando-as na sombra.
 
Porém, a chácara fora colocada à venda por 40 contos. O Internacional, embora como arrendatário tivesse a preferência para a compra, não conseguiu levantar o capital necessário para a aquisição. 
 
O presidente da Federação Rio Grandense de Football  e ex-dirigente colorado Antenor Lemos presidiu uma reunião que deveria decidir os destinos do clube. O “jovem” Ildo Meneghetti era um dos presentes.
 
Antenor fez uma exposição da situação grave pela qual o Inter passava e concluiu propondo o encerramento das atividades, com a liquidação do clube.
 
Meneghetti, que até ali ouvira em silêncio, resolveu falar.  Indagou mais detalhes sobre a situação, perguntando se não haveria outra solução. Não. Não havia. Foi o que todo o mundo respondeu.
          

Antenor Lemos tinha sido presidente do Internacional de 1920 a 1922 e era o cartola mais influente da cidade em toda a década de 20. Talvez  tenha sido o primeiro instigador da rivalidade entre Grêmio e Internacional nos moldes em que existe até hoje.
 
A cada derrota do rival Grêmio, Antenor soltava foguetes, promovia festas, acirrando a rivalidade. Mesmo quando presidente, não raro provocava brigas e partia logo para o soco. Era considerado capaz de tudo.
 
Um ocasião, já como presidente da Liga Porto-Alegrense, percebeu que o Inter perderia uma votação por causa do asmático representante do Cruzeiro. Não teve dúvidas: distribuiu charutos entre os presentes. O asmático teve que sair da sala e não pode votar, havendo o empate. E Antenor, como presidente, usou o voto de Minerva para favorecer o Inter. Era um homem decidido, que se fazia respeitar. Tinha um vozeirão e sua presença dominava os ambientes.
 
Mas Meneghetti, embora apreciasse Antenor Lemos, era um dos que não queria aceitar a idéia da liquidação e conseqüente encerramento das atividades do Inter. Argumentou, tentou fazer sugestões e afinal disse que não concordava com aquela solução, achava que talvez valesse a pena fazer mais uma tentativa. Em sua opinião aquilo “era uma precipitação”. E disse que tinham a obrigação de achar uma solução que mantivesse o Internacional.

 
– Tu achas? – perguntou Antenor Lemos, ao “menino” que ousava discordar.

– É, eu acho, sim.

– Então assume! – desafiou.       
                    
 Foi assim Meneghetti assumiu a presidência do Inter. Tinha 33 anos de idade.

 
Por uma gentileza do jornalista Cláudio Dienstmann, consegui uma cópia da ata da primeira sessão do Conselho Deliberativo, lavrada de próprio punho por Meneghetti, ocorrida em quinze de fevereiro de 1929, na sede da rua dos Andradas n.º 413,  onde está registrada a situação em que o clube se encontrava:
                                                
  “uma dívida de vinte contos de réis a pagar, não tendo material desportivo algum, estando o campo atual a precisar de uma reforma geral, o que não era conveniente, pois era de conhecimento de todos  que a tradicional ‘Chácara dos Eucalyptos’ tinha sido vendida ao sr. A. Laporta.” 

 
O Conselho Deliberativo autorizou o novo presidente a contrair um empréstimo de dez contos de réis, “a juros e prazos os mais convenientes possíveis”, para atender as despesas mais urgentes e começar a providenciar a aquisição de um terreno “onde pudesse instalar sua praça de desporto.”
 

Logo foi encontrada uma área cuja topografia era favorável,  até mesmo para a construção das futuras arquibancadas devido a uma elevação existente. A área era de propriedade do Banco Nacional do Comercio, que pretendia loteá-la. O preço era 220 contos de réis. Um dinheiro enorme. Negociando com a Companhia Territorial, subsidiária do banco, Meneghetti propôs um parcelamento e o negocio foi fechado.

 Mas ainda havia os aluguéis atrasados da Chácara dos Eucaliptos. Meneghetti procurou então o responsável pela loteadora que adquirira a área e propôs fazer a pavimentação das ruas que fariam parte do futuro empreendimento em troca da dívida. Foi aí que entrou a história da pavimentadora que a Dahne, Conceição havia adquirido.
 
 Proposta feita, o homem gostou:
  
– Muito bem, a proposta é boa. Mas qual é a minha garantia? – perguntou.
 
– A garantia é a minha palavra. – respondeu Meneghetti. O  homem olhou sério, surpreso com o atrevimento do jovem sentado à sua frente e decide:

 
– Está bem. Gostei de ti, guri. Negócio fechado.   
           
Dois anos depois o acordo estava integralmente cumprido.

 
Para pagar o terreno e financiar as obras do novo estádio foram lançados 500 títulos de sócios proprietários. Na Assembléia Geral Extraordinária de 31 de janeiro de 1929, foram propostos e aprovados os novos estatutos, redigidos e lavrados à mão por Meneghetti, criando uma nova categoria de sócios, inicialmente quinhentos, com quotas de quinhentos mil réis cada, pagáveis em vinte prestações. 
 
As obras são, então, iniciadas, com a Dahne, Conceição executando a terraplanagem da área do futuro Estádio dos Eucaliptos sem cobrar nada do clube.

 
É iniciada também, com muita dificuldade, a venda entre os torcedores dos quinhentos títulos. Acabam vendendo apenas 85. O próprio Ildo assumiu os demais.  Mais tarde, com o avanço das obras, foi feita uma nova emissão.
 
E assim, com muitas dilatações de prazo nos pagamentos do terreno, em junho de 1931 o Internacional inaugurou o seu estádio. Ildo Meneghetti, que assumiu a presidência em 1929 para permanecer pouco tempo, acabou ficando no cargo por cinco anos, de 1929 até 1933. Colocou uma fortuna no clube, que anos depois o escolheria como Patrono. 
 
E Antenor Lemos dá nome a uma das ruas das cercanias do velho Estádio.

*em parte desse  texto utilizei informações dos originais do  livro “Baile de Cobras – A Verdadeira História de Ildo Meneghetti” – em edição –  que deverá ser lançado no ano que vem.

 

Era Só o Que Faltava!

19 de setembro de 2011
O prefeito de Porto Alegre pretende enviar para a Câmara Municipal projeto para criar mais uma Secretaria Municipal, que deverá abrigar correligionário descontente.

As atribuições da nova secretaria estariam entre as tarefas atendidas pelas atuais. O secretário que está na iminência de ter sua pasta diminuída em suas tarefas diz que seu partido está negociando uma “compensação”…

Quer dizer, para dar título de autoridade ao correligionário, vão criar toda a estrutura, paga com dinheiro público, para atender demandas que já estão sendo atendidas.
Mas em que mundo esses caras vivem?
Ainda na semana passada pesquisa do Ibope apontava a saúde como o ítem mais reclamado pelos portoalegreses. Agora o  prefeito resolve criar a nova pasta para abrigar o companheiro insatisfeito, porque isso inclusive teria influência em disputas internas de seu partido.
Mas e o que temos com isso?
Vão então criar mais custo, cargos, CCs e despesas para resolver problema político-partidário e nós é que pagamos a conta?
Como diziam nossas avós: “Mas era só o que faltava!”

E falam sobre isso assim, como se fosse a coisa mais natural do mundo.Enquanto isso,  a prefeitura faz horrores em uma busca desenfreada para aumentar a arrecadação. Vejam o post  “Disputa entre Prefeitura e Estado por Imposto” https://eniomeneghetti.com/2011/05/19/disputa-entre-prefeitura-e-estado-por-imposto/ por exemplo.

Será interessente ver como se manifestará a oposição na Câmara Municipal à respeito da descabida proposição do prefeito. Porque a oposição de Porto Alegre ocupa o Piratini e o Palácio do Planalto, onde se age da mesma forma: criam secretarias de Estado e ministérios em abundância, como se isto não custasse monte de dinheiro.

E em meio a esse desperdício, nós, o povo, pagamos a conta.
Confiram:
ZH – 17/09/2011 – pág 10 – Rosane Oliveira
Pompeo Será Secretário
A Câmara de Porto Alegre deve aprovar na quarta-feira o projeto do Executivo que cria a Secretaria do Trabalho.
O titular será o ex-deputado Pompeo de Mattos(PDT), funcionário de carreira do Banco do Brasil, que está no ostracismo desde o início do ano.
Cotado para o cargo, Cláudio Janta foi preterido.
A indicação também é uma forma de afastar Pompeo da deputada Juliana Brizola, que pleiteia  a presidência do PDT na Capital
e briga para que a escolha seja feita por eleição direta.
A tendência é de o deputado Vieira da Cunha ser escolhido para presidir o partido na Capital. Pela via indireta.
Disputa por espaço
A criação da Secretaria do Trabalho deve retirar cerca de 30% das atribuições da Secretaria Municipal da Indústria e Comércio, de acordo com
os cálculos do Secretário Valter Negelstein.
Para que a atual correlação de forças seja mantida, Nagelstein diz que está sendo discutida
uma compensação ao PMDB.
Uma das idéias, defendida também pelo presidente do PMDB, Sebastião Melo, é mudar o perfil da SMIC,
redirecionando o foco da fiscalização para o desenvolvimento.

Aeromóvel

17 de agosto de 2011

Em 10 de maio passado publiquei um post intitulado “Nosso Sonho do Metrô”, https://eniomeneghetti.com/2011/05/10/nosso-sonho-do-metro/ onde sugeria nossas autoridades a estudarem uma ligação entre a estação Anchieta do atual Trensurb ao extremo da Zona Norte, junto a FIERGS.

Leio agora reportagens sobre a implantação do Aeromóvel entre a linha do Trensurb e o Aeroporto. Orçada em R$ 29,9 milhões para um trecho de 998 metros, transportará 300 passageiros em 90 segundos.

Mencionam uma pesquisa que dá como embarque e desembarque no Salgado Filho  7.000 pessoas por dia. A pergunta é: essas pessoas utilizarão o Trensurb? Alguém vai voltar de viagem, pegar as malas e entrar no trensurb para ir a Esteio, por exemplo? Desse numero de 7.000, provavelmente somente os funcionários do aeroporto poderiam utilizar e mesmo assim, os que moram em áreas próximas ao trem ou nas cidades satélites servidas.  Não estariam forçando a barra com pesquisas para justificar um gasto que seria melhor aproveitado noutras áreas?

Por que nossas autoridades não ousam e vão um pouquinho mais adiante? Cerca de mais quatro quilômetros apenas! Com a vantagem de sequer precisar dos “52 pilares de sustentação que já estão sendo fabricados” – como revela a reportagem de Zero Hora (abaixo).

Sim, porque correndo paralela à Fre-Way, uma nova via poderia ser assentada perfeitamente onde hoje é praticamente só mato e atender a demanda dos mais de 150.000 moradores dos bairros Sarandi e Rubem Berta. E desafogar o trânsito de ônibus e automóveis da Sertório, Assis Brasil, Farrapos, Voluntários da Pátria, etc. e até da BR 116! Com um sistema moderno, econômico, confortável, limpo e ecológico.

Parece que não tem imaginação. Ou não querem. Ou ambos. Por que será?

Jornal Zero Hora – 16/08/2011 – pg 28
Ministro anuncia início de obras do aeromóvel que ligará estação da Trensurb ao aeroporto
Com novo transporte, passageiros poderão chegar ao aeroporto em 90 segundos
Juliana Bublitz | juliana.bublitz@zerohora.com.br

Em cerimônia realizada nesta segunda-feira na Capital, o ministro das Cidades, Mário Negromonte, anunciou o início das obras do aeromóvel, em Porto Alegre. O sistema funcionará em uma via elevada de 998 metros de extensão será construída para ligar a Estação Aeroporto, da Trensurb, ao Terminal 1 do Aeroporto Internacional Salgado Filho.

— Esse é um momento histórico para o transporte urbano brasileiro. E o que é melhor: com tecnologia gaúcha — disse Negromonte.

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Foto: Divulgação, Prefeitura de Porto Alegre

O ministro garantiu que a obra, com valor estimado de R$ 29,9 milhões, estará pronta até dezembro. A intenção é que no início de 2012 comecem os testes e que, até o fim do ano, os veículos entrem em operação.

Segundo pesquisa encomendada pela Trensurb à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), cerca de 7 mil pessoas embarcam e desembarcam no aeroporto por dia.

Para atender à demanda, haverá dois veículos, um com capacidade de 150 usuários, e outro, de 300. Eles deverão operar de forma intercalada de acordo com os horários de maior exigência, como o início da manhã e o final da tarde, e farão o percurso em 90 segundos.

O aeromóvel será conectado ao andar de embarque do aeroporto e à área de transportes da estação. Com isso, o passageiro pagará apenas o valor da passagem unitária e utilizará o veículo de forma gratuita. Hoje, o trajeto pode ser feito a pé, de táxi ou por sete linhas de ônibus.

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Foto: Divulgação, Prefeitura de Porto Alegre
ZERO HORA

Onde Isto Tudo Vai Parar?

6 de julho de 2011

Fazer uma  viagem pelas notícias dos últimos 30 dias é uma coisa impressionante.

Onde esse carnaval vai parar? 

 

Operação Cartola RS: operação contra fraude de R$ 30 mi fecha 8 prefeituras  

 Polícia Civil do Rio Grande do Sul deflagrou na manhã desta quarta-feira uma operação para apreender documentos que comprovem um suposto esquema de contratação fraudulenta e superfaturamento de serviços prestados por empresas de publicidade junto a prefeituras municipais. Ao todo, foram cumpridos 43 mandados de busca e apreensão em dez cidades gaúchas, sendo que oito prefeituras foram fechadas durante a ação. As fraudes teriam desviado pelo menos R$ 30 milhões dos cofres públicos desde 2008, segundo a polícia. (terra)

Patrimônio de empresa de filho de Alfredo Nascimento aumenta 86.500%

A revelação sobre o crescimento espetacular no capital da empresa de Gustavo Morais Pereira, filho do ministro Alfredo Nascimento (transportes), publicada nesta quarta-feira pelo GLOBO, torna insustentável a permanência do representante do PR no cargo. Essa avaliação foi feita reservadamente tanto no Palácio do Planalto como nas bancadas do PR no Congresso. (o globo)
 
Casino pede para BNDES não financiar fusão Pão de Açúcar/Carrefour

 
Palocci amplia patrimônio 20 vezes, diz jornal; oposição pede explicação

Após 20 dias de desgaste, o ministro Antonio Palocci cedeu à pressão e deixou a Casa Civil. A presidente Dilma Rousseff demorou, mas não aguentou mais ver o governo sangrar em razão de revelações em série: que o patrimônio do ministro cresceu 20 vezes em apenas 4 anos; que em 2010, ano eleitoral, sua empresa de consultoria faturou 20 milhões de reais; e que o luxuoso apartamento que aluga em São Paulo está registrado em nome de um laranja. Agora, Dilma tentará recompor sua autoridade atropelada nestes dias de crise (o globo)

 
Nova lei impede prisão de quem frauda licitação

A nova lei 12.403, que entrou em vigor ontem, impede a prisão preventiva de autoridades ou servidores públicos que são flagrados fraudando licitações, somente porque a pena prevista para esse crime é inferior a quatro anos. De acordo com a Lei das Licitações (nº 8.666), a pena para fraude é de três anos e seis meses. A punição para quem dispensa licitação ilegalmente é de apenas três anos e cinco meses. (Cláudio Humberto)

Sigilo sobre obras da Copa é ‘absurdo’  

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, fez duras críticas nesta quinta-feira à medida provisória que flexibiliza as licitações para as obras da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, aprovada na noite desta quarta-feira na Câmara dos Deputados.

 

 

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Supremo concede liberdade para Battisti

Decisão de não extradição, tomada por Lula, é válida. Battisti será libertado e ficará no Brasil

 
 
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E prá arrematar, olhem essa:  
 
Se o Guaíba ficasse na China
Na China, a nova ponte do Guaíba seria o caminho mais curto entre o Ministério dos Transportes e a penitenciária
Há uma semana, o governo da China inaugurou a ponte da baía de Jiaodhou, que liga o porto de Qingdao à ilha de Huangdao. Construído em quatro anos, o colosso sobre o mar tem 42 quilômetros de extensão e custou o equivalente a R$2,4 bilhões.
Há uma semana, o DNIT escolheu o projeto da nova ponte do Guaíba, em Ponte Alegre, uma das mais vistosas promessas da candidata Dilma Rousseff. Confiado ao Ministério dos Transportes, o colosso sobre o rio deverá ficar pronto em quatro anos. Com 2,9 quilômetros de extensão, vai engolir R$ 1,16 bilhões.
Intrigado, o matemático gaúcho Gilberto Flach resolveu estabelecer algumas comparações entre a ponte do Guaíba e a chinesa. Na edição desta segunda-feira, o jornal Zero Hora publicou o espantoso confronto númerico resumido no quadro abaixo:
 

 

Os números informam que, se o Guaíba ficasse na China, a obra seria concluída em 102 dias, ao preço de R$ 170 milhões. Se a baía de Jiadhou ficasse no Brasil, a ponte não teria prazo para terminar e seria calculada em trilhões. Como o Ministério dos Transportes está arrendado ao PR, financiado por propinas, barganhas e permutas ilegais, o País do Carnaval abrigaria o partido mais rico do mundo.
Depois de ter ordenado o afastamento dos oficiais, aí incluído o coronel do DNIT, Dilma Rousseff parece decidida a preservar o general. “O governo manifesta sua confiança no ministro Alfredo Nascimento”, avisou nesta segunda-feira uma nota da Presidência da República. “O ministro é o responsável pela coordenação do processo de apuração das denúncias feitas contra o Ministério dos Transportes”. Tradução: em vez de demitir o chefe mais que suspeito, Dilma encarregou-o de investigar os chefiados.
Corruptos existem nos dois países, mas só o Brasil institucionalizou a impunidade. Se tentasse fazer na China uma ponte como a do Guaíba, Alfredo Nascimento daria graças aos deuses se o castigo se limitasse à demissão.

Um Funil a Céu Aberto

29 de junho de 2011

Os Nós do Trânsito (01)

A cada dia mais as pessoas que moram em Porto Alegre tem reclamado dos crescentes problemas de trânsito.
 
E o que se vê é muito discurso e pouca ação das autoridades encarregadas de gerenciar o problema.
 
Para começar, abusando do marketing, trânsito virou “Mobilidade Urbana”.
 
Ora, trânsito é TRÂNSITO! Onde andam todos, sejam pobres ou ricos, pedestres ou motorizados, carros, ônibus, caminhões ou motocicletas. 
 
Muitos dos nós existentes poderiam ser resolvidos com intervenções bem simples.

Por exemplo, o problema de fechar os cruzamentos, quando muda o sinal. Especialmente quando o trânsito está engarrafado, os motoristas, levados ao desespero, param ou deixam o “rabo” do carro na área do cruzamento de vias, quando o sinal fecha, impedindo que o tráfego da outra rua avance e aí tudo pára, agravando o problema. A prefeitura se faz de cega e não age. E a solução seria simples. 
 
Em vez de gastar uma fortuna em publicidade de “um novo sinal”  (o sinal da mão que por sinal não deu certo)a prefeitura podia ter melhor empregado estes recursos com um bom programa de educação para o trânsito. No entanto, só confundiram a cabeça de motoristas e pedestres para criar algo que já está na legislação de trânsito (e que é privativa do CONTRAN!). Preferiram jogar pedestres x motoristas e ficar assistindo mais um capítulo do caos.

 
Ora, e por que não deu certo? Se alguns motoristas,  que são habilitados, não conhecem direito as regras de trânsito e confundem-se com o “novo sinal”, imagine o pedestre! Sim, porque com essa medida, a ação de nossas autoridades foi delegar ao pedestre – que não estudou necessariamente a legislação de trânsito e não tem obrigação de saber que o sinal só vale nas esquinas onde não tem sinaleiras – a tarefa de sinalizar o tráfego!  A confusão está instalada.
 
Pensando estrategicamente, educação para o trânsito deveria ser matéria do currículo escolar. Crianças com 10 ou 14 anos, em pouco tempo serão os futuros motoristas. Aulas atrativas e interessantes poderiam mudar o quadro de (maus) motoristas que temos hoje, preservando vidas e com um trânsito fluindo melhor.
 
Mas justiça seja feita, essa má prática de fazer marketing com trânsito não foi iniciada na atual gestão. Isso foi lançado entre nós pela auto proclamada “Administração Popular”.  Eles  cunharam e abusaram da frase:
 
“Não vamos privilegiar o transporte individual”. chegando ao ponto de Raul Pont culpar FHC pelo já caótico trânsito de Porto Alegre, porque facilitava a compra de automóveis – isso há mais de 10 anos. 
 
E fizeram de tudo para dificultar a vida dos pobres coitados que podiam se dar ao luxo (?) de andar de automóvel. Como se os ônibus também não andassem no trânsito, ou se automóvel fosse luxo de ricos e para poucos, como se não existissem milhares de profissionais autônomos ou não, que dependem de um automóvel para deslocar-se para trabalhar. Ou como se pessoas de menor poder aquisitivo não tivessem carro e as frotas de empresas não se deslocassem para ajudar a engordar o PIB e gerar impostos e riqueza para ser desperdiçada em más políticas de toda ordem.
 
 Para começar, afunilaram os cruzamentos, com aquelas tartarugas refletivas pregadas no chão que existem nas esquinas e fazem com que um só carro atravesse por vez. Aquilo foi feito para criar engarrafamentos e o tráfego fica realmente com a rapidez de tartarugas. 
 
Conduziram também obras intermináveis como a III Perimetral, onde o viaduto da Carlos Gomes x Nilo Peçanha chegou a ficar paralizado mais de 6 meses após levarem à falência a empreiteira encarregada da obra. Porto Alegre ainda aguarda por obras planejadas no governo  Vilella. A III Perimetral é ainda de antes daquele tempo. Aliás foi o último prefeito digno de ser assim chamado, pois pensou e planejou a cidade. Os outros foram meros remendões.
 
Igualmente a passo de tartaruga foi a reforma do viaduto da João Pessoa, junto a Faculdade de Direito da UFRGS.
 
E aquele túnel com “rotatória aérea”, na Protásio com Carlos Gomes, obra faraônica da Administração Popular, (aliás, nem dá para chamar de faraônica, porque as obras dos faraós funcionavam e, principalmente, duravam) que poderia, sozinha, ter suprido os recursos para construir os viadutos que ficaram faltando.
 
A Sertório, que nunca havia engarrafado até o dia em que botaram lá aquele corredor tão ocioso como é o da mencionada – e permanentemente engarrafada – III Perimetral –  a obra que nasceu velha e ultrapassada.
 
Então,  como o assunto é amplo, vamos abordá-lo um-a-um, nos próximos posts:


O novo sinal; o hábito de fechar cruzamentos; os nós localizados; o estreitamento de vias; a necessidade de mais espaços de estacionamento; a praga que são alguns serviços de manobristas ou ‘valet’, que atuam no meio da rua; os “tranca-rua” e aí por diante.
 
Sugestões ou críticas, serão muito bem vindas.

Um Sistema de Recolhimento de Lixo Sensacional

6 de junho de 2011

O Beto Becker envia um vídeo que dá o que pensar. Mostra um sistema adotado em Barcelona que acaba com as latas de lixo, a sujeira nas ruas, o barulho e a bagunça da coleta por caminhões.

Parece mágica, mas não é.

Imaginar sua implantação em cidades brasileiras seria uma visão tentadora. Mas não dá para deixar de exercitar a mente visualizando os empecilhos que algumas mentalidades míopes e tacanhas (ou mal intencionadas) causariam só de pensar em adotá-lo, antes mesmo de se começar a falar em custos.

Veja:

 

 

O sistema, como se pode ver, é sensacional. Confesso que não sei quanto custaria para implementá-lo em uma cidade como Porto Alegre. Como diz a reportagem, a longo prazo torna-se vantajoso.

Mas e os grupos que gravitam em torno do recolhimento de lixo, com as histórias que se contam Brasil afora, como reagiriam à idéia?

E aqui em nossa aldeia,  se  para tirar as carroças das ruas, já dá uma tremenda discussão pela perda da atividade econômica de seus condutores, imagina não ter mais a matéria-prima para recolher!

E os garis desempregados?

É claro que seria uma mão de obra perfeitamente alocada em outros setores, após treinada, como a construção civil, sem falar nos que seriam aproveitados na operação do novo processo.  Até porque,  um projeto como o mostrado no vídeo não se implanta do dia para a noite. Levaria bem mais de uma década, caso fosse adotado.

Mas o que haveria de discurso demagógico e desvio de foco em torno do assunto, dá bem para prever.

Lembro da piada do sindicalista que andava por uma estrada e viu uma retroescavadeira em operação. Parou a viatura  e dirigiu-se ao engenheiro que supervisionava o trabalho:

– Isso é uma vergonha! Essa máquina está tirando o trabalho de 10 homens que poderiam estar trabalhando de pá e carrinho de mão!

O engenheiro respondeu:

– Bem, na verdade, ela tira o trabalho de 100 homens, se trabalharem com uma colher e um balde cada um.

Piada? Mas eu lembro da gritaria que houve há apenas uns dez anos, quando pretenderam oferecer a opção do sistema self-service (perdoe-me pelo anglicismo, deputado Carrion!) nos postos de gasolina, pela diminuição de empregos que causaria aos frentistas. Claro que, no caso, era um problema a ser resolvido. Mas naquele caso, merecia ser estudada como uma opção a ser oferecida, desde que a um custo menor para os consumidores.

Evidentemente que não se pretende tirar o emprego ou sustento de ninguém. Mas existem formas racionais de encarar as novas idéias e resolver os problemas que elas trazem sem descartá-las de pronto. Todo novo processo sempre abre uma nova gama de atividades a serem exercidas. O que não se pode é parar de ousar.

Agora, quem matou a questão foi meu amigo Jackson:

“No Brasil, o sugador iria estragar por falta de manutenção; as pessoas colocariam sacos maiores que as bocas das lixeiras; algum cidadão com excesso de peso poderia tentar o suicídio e entalar, paralisando todo o sistema; a prefeitura faria uma taxa adicional de emergência e o sistema antigo de coleta seria reativado com o dobro do custo; o sistema seria invadido por sem-tetos que passariam a residir no interior dos tubos. Esquece.”

Definitivamente, seria difícil.