Então, em seqüência ao post anterior, o Inter desde 1931 tinha seu Estádio dos Eucaliptos.
O Grêmio permanecia no Estádio da Baixada dos Moinhos de Vento que, com a popularização do futebol, havia se tornado pequeno e não tinha como ser expandido no local onde se encontrava. Ficava junto a Mostardeiro, à direita de quem descia a baixada que lhe emprestava o nome, onde hoje está parte do leito da II Perimetral.
Precisando de um local para erguer um novo estádio, o presidente gremista, Saturnino Vanzelotti, foi procurar a prefeitura. O prefeito era Ildo Meneghetti, que vencera o jovem líder trabalhista, Leonel Brizola, nas eleições de 1951.
Assim como em São Paulo já havia o Estádio Municipal do Pacaembú e o Rio teria, antes da Copa de 50, o Maracanã, havia o projeto de um Estádio Municipal em Porto Alegre no Plano de Urbanização de Loureiro da Silva, de 1943. Tinha inclusive a área já definida, na Medianeira.

Estádio Municipal
Dos entendimentos com a prefeitura, acabou sendo acertada com o Grêmio a permuta da área da baixada pelo local onde hoje está o Estádio Olímpico, na Avenida Carlos Barbosa.
Desde o início de sua gestão, o prefeito debruçara-se sobre o problema crescente da falta de moradias populares. Já proliferavam as sub-habitações e o problema se agravava. Criou então um departamento específico na prefeitura para tratar da questão habitacional.
Com a definição da construção do Estádio do Grêmio no local e a prevista valorização dos terrenos lindeiros, pertencentes ao município, o prefeito enviou para a Câmara de Vereadores um projeto que autorizaria o Executivo a vender as áreas adjacentes, que loteadas e assim valorizadas, teriam os montantes apurados destinados obrigatoriamente à aquisição de áreas mais amplas, apropriadas à habitação popular.

E assim, casualmente o prefeito, Patrono do Internacional, acabou tendo participação na história da construção do Estádio Olímpico, do rival Grêmio.
Que, por outra coincidência, também era uma área muito próxima de onde localizara-se a antiga Chácara dos Eucaliptos, arrendada pelo Inter até meados de 1929.
Ressalte-se a atitude da Câmara Municipal, que aprovou um bom projeto, quando o mais comum em tempos recentes, seria torpedear um projeto proposto por adversários políticos…
Nessa segunda gestão de Meneghetti como prefeito, foram produzidas e comercializadas, em uma Porto Alegre que contava ainda com menos de 400.000 habitantes, 4.469 unidades habitacionais. Foram 693 casas na Vila Batista Xavier, 994 no Sarandi, 1009 na Vila São José – no Partenon, 812 no Passo das Pedras, 713 no Parque Santa Anita. Eram casas populares, simples, de madeira, mas bem construídas. Eram vendidas a preços módicos e longos prazos para pagamento. Muitas das casas estão de pé até hoje, passados quase sessenta anos.

Muitas das vilas que se denominaram depois São Gabriel, Batista Xavier, São José, Sarandi, Passo das Pedras, Vila Vargas eram chamadas, por seus moradores de Vilas Meneghetti. E na implantação de tais vilas, Meneghetti era o prefeito, o engenheiro, o urbanista, o assistente social. Participava da elaboração dos projetos, visitava e fiscalizava as obras pessoalmente. Nessas visitas ouvia a população, conversava, opinava. Nestes contatos, sem nenhum rigor de protocolo, confirmava sua impressão sobre a necessidade das demandas. Sem demagogia, sem exibicionismo, sem populismo.
Foi uma iniciativa pioneira. Até então, nunca uma prefeitura havia intercedido na questão dessa forma.
Uma ocasião, na solenidade de entrega de um lote de casas construídas com o auxílio de verbas federais, convidado, compareceu Getúlio Vargas. Meneghetti entregou ao presidente um cheque:
– O que é isso, Meneghetti? – perguntou Getúlio, ao receber o cheque.
– Este é o dinheiro que sobrou da construção das casas.
– Ora, é a primeira vez que vejo sobrar dinheiro de obras públicas. – espantou-se Getúlio.
– É que aqui nós aplicamos o dinheiro na obra mesmo…
ZH 25/07/1999 – Meneghetti recebe Getúlio Vargas e Loureiro da Silva em 1953
Mas o interessante mesmo, é que aqui eram os clubes, por seus dirigentes e torcedores, que resolviam seus problemas e construiam seus estádios. Enquanto em outros lugares, o poder público construía e pagava a conta.
Nota: para escrever este post, utilizei dados do livro “Baile de Cobras – A Verdadeira História de Ildo Meneghetti” – em edição.