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O Velho Meneghetti

14 de maio de 2012

Jornalista Rogério Mendelski faz uma bela referência ao livro “Baile de Cobras – A Verdadeira História de Ildo Meneghetti” em sua coluna no Correio do Povo deste domingo, 13.05.2012.

 

A transcrição é a seguinte:

O Velho Meneghetti

Assim era tratado o ex-governador Ildo Meneghetti por todos os gaúchos que privaram com ele, especialmente depois que ele deixou o governo, em janeiro de 1967. “O velho Meneghetti”, quando era citado desta maneira, trazia uma entonação vocal como nós damos ao “velho”, quando nos referimos aos nossos pais. “O velho Oswaldo”, diria o colunista, “era um excelente cozinheiro e nunca estava com mau humor”. Pois o livro “Baile de Cobras”, escrito pelo seu neto Enio Meneghetti, lançado na última segunda-feira, é um perfil do ex-governador que os gaúchos estavam esperando já faz algum tempo. Não se trata de uma ode na qual o neto elogia o avô, mas de um depoimento pleno de fatos importantes da vida política do RS da metade do século passado. O que enriquece “Baile de Cobras” não é somente a farta documentação da época com reproduções dos jornais (destaque para os jornais da Caldas Júnior), mas os detalhes do dia a dia de um homem cuja simplicidade o fazia dirigir o próprio carro quando era prefeito, refletindo uma honestidade nata que, nos dias de hoje, poderia ser considerada de ingênua diante do oceano de patifarias e de roubalheiras que se tornaram “métodos” e “programas” de governo. Um pequeno trecho narrado logo no início do livro provoca no leitor aquela vontade de não parar mais de lê-lo. Prefeito de Porto Alegre em seu segundo mandato, Meneghetti inaugurou, ao lado do presidente Getúlio Vargas, um conjunto habitacional no bairro Sarandi. Após o ato, Meneghetti entregou a Getúlio um cheque. “O que é isso, Meneghetti?”, perguntou o presidente. “É o dinheiro que sobrou da construção das casas”, respondeu. E o presidente, então, não resistiu: “Ora, é a primeira vez que vejo sobrar dinheiro de obras públicas”. Meneghetti: “É que aqui nós aplicamos as verbas na obra mesmo…”.

 
Reclama ao Menega (1)


Como prefeito, Meneghetti dirigia o seu automóvel particular, um Nash Rambler. Na estrada para Belém Novo, na companhia do vereador Braga Gastal, foi apertado por um ônibus da então DATC, autarquia municipal. Meneghetti ultrapassou, “fechou” o coletivo e saiu advertindo o motorista: “Seu mal-educado, onde já se viu dirigir assim? Poderia ter causado um acidente”. “Olha aqui, velhinho, se não tá satisfeito, vai reclamar com o Menega”, retrucou o motorista. “Mas o Meneghetti sou eu!”. “Brincadeira tem hora, velhinho. Tira o carro da frente que eu quero passar”.

Reclama ao Menega (2)


O vereador Braga Gastal aproximou-se e mostrou ao motorista quem era o cidadão. Meneghetti tirou o chapéu, foi reconhecido pelo motorista que ficou branco de susto. O prefeito, então, deu-lhe uma ordem: “O senhor, por favor, apresente-se amanhã na prefeitura, às 10 h”. No dia seguinte, lá estava o motorista. Meneghetti, que já tinha esquecido o incidente, recebeu o funcionário, perguntou-lhe sobre sua família (“mulher e quatro filhos”, informou o motorista). “Menega abriu a carteira, tirou algumas notas de cruzeiros, e fez-lhe uma recomendação: “Dê este presente aos meninos que eu mando, mas nunca mais faça aquilo, está bem?”.  

Baile de Cobras – A Verdadeira História de Ildo Meneghetti

23 de abril de 2012

No dia 7 de maio estarei lançando “Baile de Cobras – A Verdadeira História de Ildo Meneghetti”.

A biografia conta como um homem comum, que elegeu-se vereador em Porto Alegre aos 53 anos, chegou depois duas vezes a Prefeito de Porto Alegre e outras duas a Governador do RS, disputando sempre como candidato improvável e vencendo todas as eleições que disputou.

Contém revelações inéditas, sobre as campanhas eleitorais, relatos de momentos conturbados da vida regional e nacional e histórias de bastidores da política, além das histórias vividas como dirigente de futebol.

O lançamento será no Chalé da Praça XV de Novembro, em Porto Alegre a partir das 18h30.

 

Lembro bem que descia a avenida Carlos Gomes quando ouvi pelo rádio do carro a propaganda:

“Leia em Coojornal: Meneghetti conta tudo!”.

Pensei: mas tudo o que? Eu, que do alto da “sabedoria” de meus 20 anos, em 1977, achava que sabia de tudo…

Creio que só no dia seguinte fui até o centro de Porto Alegre procurar a edição do Coojornal. Lá estava uma entrevista
de duas páginas em letra miúda, longa, consistente. Bem escrita, parecia que eu estava vendo meu avô falar. Nas alegrias e decepções, fazia críticas, uma entrevista em profundidade.

Dias depois, ao visitá-lo, comentei que vira sua entrevista. Ele não a tinha lido. Fiquei de levá-la. Quando o fiz, ele ficou algum tempo em silêncio, passando os olhos pelo texto, como se estivesse conferindo se estava tudo lá. Ao terminar lançou-me um olhar com meio sorriso, como se fosse um menino, aos 82 anos. Detalhou alguns pontos que eu não captara por ter menos de 10 anos quando alguns dos fatos aconteceram.

Lembro que após a morte de minha avó Judith, em 1979, quando ele realmente entristeceu para sempre, e até por isso habituei-me a visitá-lo ao menos cerca de duas vezes por semana nos finais de tarde após o trabalho, foi que fui mais a fundo e explorei os assuntos políticos com ele.

Foi assim, e graças a uma boa memória que devo ter herdado dele, que comecei a acumular informações que me levariam a escrever “Baile de Cobras”. Procurei meu pai, que embora tenha suas opiniões bem formadas e lembrasse de muita coisa, nunca meteu-se em política. E meu tio, João Eurico Meneghetti. Procurei seus amigos ainda vivos e ex-auxiliares de governo que detalharam-me fatos completamente. Tomei o cuidado de procurar na literatura tudo o que havia sobre os episódios que ele me narrara. E já tinha material abundante.

Comecei em 2002 e acabei em 2012. E a obra ficou finalmente pronta e agora publicada.

Enio Meneghetti