Senhoras e senhores: é uma vergonha nacional o STF liberar para prisão domiciliar um dentre os nove detentos exatamente no momento em que este é apontado em matéria de capa de uma das principais publicações do país, VEJA desta semana, como prestes a revelar segredos de suas relações “anti republicanas” com o ex presidente Lula.
A decisão da segunda turma do STF é de uma coincidência infeliz, no momento em que VEJA (reprodução abaixo) estampa em letras garrafais a informação que o ex-presidente da construtora OAS, conhecido como Léo Pinheiro, dava sinais evidentes que iria abrir o bico e fazer a delação premiada.
Agora Léo Pinheiro e demais empreiteiros poderão fazer “contatos” antes impossíveis de passarem despercebidos. Ficarão presos em casa. Usar a tornozeleira eletrônica não os impede de usar um telefone celular de terceiros, ou receber visita de pombos correios. Além de ser bem menos incômodo usar o banheiro de casa do que o vaso turco da carceragem.
O COMBO DE ZAVASKI
Ao final da sessão em que o advogado de Ricardo Pessoa conseguiu colocar seu cliente dentro de casa, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo, propôs libertar também outros oito executivos, sob o argumento de que estavam em “situação processual significativamente assemelhada” à de Pessoa. O combo proposto por Zavaski e acatado por apertados 3 x 2.
Não custa lembrar que o mesmo Zavaski, em uma história ainda mal explicada, coincidentemente, havia liberado Renato Duque depois que sua esposa teria falado desesperadamente com interlocutores de Lula e depois com o próprio. A grave revelação ainda está sem qualquer explicação ou interpelação, o que lhe dá ares de veracidade.
Zavaski tomou a iniciativa de estender a decisão que beneficiaria apenas a Ricardo Pessoa, também a José Aldemário Pinheiro Filho (Leo Pinheiro), Mateus Coutinho de Sá Oliveira, Agenor Franklin Magalhães Medeiros e José Ricardo Nogueira Breghirolli (todos executivos da empreiteira OAS); Gerson de Mello Almada (vice-presidente da Engevix); Sérgio Cunha Mendes (vice-presidente da Mendes Junior), Erton Medeiros Fonseca (executivo da Galvão Engenharia); e João Ricardo Auler, presidente do Conselho de Administração da Camargo Corrêa).
Eles deverão se manter afastados da direção das empresas. A cada 15 dias, deverão se apresentar a justiça dizendo o que andam fazendo. Embora impedidos de manter contato com demais investigados, quem garante que não farão contatos muito mais efetivos para seus casos?
Certamente Ricardo Pessoa, Léo Pinheiro e Gerson Almada se borrarão de medo de fazer reuniões de negócios, jamais terão contatos com políticos ou intermediários e imagine se estes cidadãos cumpridores das leis tentarão interferir nos processos nos quais são réus! Imagine!
Quem vai fiscalizar isso? Como?
O brasileiro sempre foi um povo dócil. Quando o Brasil está prestes a conhecer o grande chefe, sai uma decisão dessas. O juiz Sérgio Moro é mesmo um homem incomum, que está horrorizando a bandidagem de alto coturno. O magistrado conseguiu manter presos por cinco meses os barões da construção civil. Façanha.
Semana que vem, Leo Pinheiro tem depoimento marcado com o Juiz Sérgio Moro. Vamos conferir o tom de sua fala.
E dia 04 de maio, a CPI da Petrobrás vai a Curitiba ouvir os presos da Lava Jato. Os nove dedos, isto é, os nove agora soltos pelo combo de Zavaski deverão estar lá.
Abaixo, a reportagem de VEJA sobre um pouco do que Leo Pinheiro poderia falar.
Os favores do empreiteiro
Preso há seis meses, Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, uma das empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras, admite pela primeira vez a intenção de fazer acordo de delação premiada. Seu relato mostra quanto era íntimo de Lula
“Segundo Léo Pinheiro, Lula pediu a ele que cuidasse da reforma do “seu” sítio em Atibaia. A propriedade está registrada em nome de um sócio de Fábio Luís da Silva, filho do ex-presidente(Jefferson Coppola/VEJA)
O engenheiro Léo Pinheiro cumpre uma rotina de preso da Operação Lava-Jato que, por suas condições de saúde, é mais dura do que a dos demais empreiteiros em situação semelhante. Preso há seis meses por envolvimento no esquema do petrolão, o ex-presidente da OAS, uma das maiores construtoras do país, obedece às severas regras impostas aos detentos do Complexo Médico-Penal na região metropolitana de Curitiba. Usa o uniforme de preso, duas peças de algodão azul-claras. Tem direito a uma hora de banho de sol por dia, come “quentinhas” na própria cela e usa o banheiro coletivo. Na cela, divide com outros presos o “boi”, vaso sanitário rente ao piso e sem divisórias. Dez quilos mais magro, Pinheiro tem passado os últimos dias escrevendo. Um de seus hábitos conhecidos é redigir pequenas resenhas e anexá-las a cada livro lido. As anotações feitas na cela são muito mais realistas e impactantes do que as literárias. Léo Pinheiro passa os dias montando a estrutura do que pode vir a ser seu depoimento de delação premiada à Justiça. Pinheiro foi durante toda a década que passou o responsável pelas relações institucionais da OAS com as principais autoridades de Brasília. Um dos capítulos mais interessantes de seu relato trata justamente de uma relação muito especial – a amizade que o unia ao ex-presidente Lula.
De todos os empresários presos na Operação Lava-Jato, Léo Pinheiro é o único que se define como simpatizante do PT. O empreiteiro conheceu Lula ainda nos tempos de sindicalismo, contribuiu para suas primeiras campanhas e tornou-se um de seus mais íntimos amigos no poder. Culto, carismático e apreciador de boas bebidas, ele integrava um restrito grupo de pessoas que tinham acesso irrestrito ao Palácio do Planalto e ao Palácio da Alvorada. Era levado ao “chefe”, como ele se referia a Lula, sempre que desejava. Não passava mais do que duas semanas sem manter contato com o presidente. Eles falavam sobre economia, futebol, pescaria e os rumos do país. Com o tempo, essa relação evoluiu para o patamar da extrema confiança – a ponto de Lula, ainda exercendo a Presidência e depois de deixá-la, recorrer ao amigo para se aconselhar sobre a melhor maneira de enfrentar determinados problemas pessoais. Como é da natureza do capitalismo de estado brasileiro, as relações amigáveis são ancoradas em interesses mútuos. Pinheiro se orgulhava de jamais dizer não aos pedidos de Lula.
Pinheiro: do trânsito livre ao Palácio do Planalto ao banheiro coletivo na prisão(Beto Barata/VEJA)
Desde que deixou o governo, Lula costuma passar os fins de semana em um amplo sítio em Atibaia, no interior de São Paulo. O imóvel é equipado com piscina, churrasqueira, campo de futebol e um lago artificial para pescaria, o esporte preferido do ex-presidente. Desde que deixou o cargo, é lá que ele recebe os amigos e os políticos mais próximos. Em 2010, meses antes de terminar o mandato, Lula fez um daqueles pedidos a que Pinheiro tinha prazer em atender. Encomendou ao amigo da construtora uma reforma no sítio. Segundo conta um interlocutor que visitou Pinheiro na cadeia, esse pedido está cuidadosamente anotado nas memórias do cárcere que Pinheiro escreve.
Na semana passada, a reportagem de VEJA foi a Atibaia, região de belas montanhas entrecortadas por riachos e vegetação prístina. Fica ali o Sítio Santa Bárbara, cuja reforma chamou a atenção dos moradores. Era começo de 2011 e a intensa atividade nos 150 000 metros quadrados do sítio mudou a rotina da vizinhança. Originalmente, no Sítio Santa Bárbara havia duas casas, piscina e um pequeno lago. Quando a reforma terminou, a propriedade tinha mudado de padrão. As antigas moradias foram reduzidas aos pilares estruturais e completamente refeitas, um pavilhão foi erguido, a piscina foi ampliada e servida de uma área para a churrasqueira. As estradas lamacentas do sítio receberam calçamento de pedra e grama. Um campo de futebol surgiu entre as árvores. O antigo lago deu lugar a dois tanques de peixes contidos por pedras nativas da região e interligados por uma cascata. Ali boiam pedalinhos em formato de cisne. A área passou a ser protegida por grandes cercas vigiadas por câmeras de segurança, canil e guardas armados.
O que mais chamou atenção, além da rapidez dos trabalhos, é que tudo foi feito fora dos padrões convencionais. A reforma durou pouco mais de três meses. Alguns funcionários da obra chegavam de ônibus, ficavam em alojamentos separados e eram proibidos de falar com os operários contratados informalmente na região e orientados a não fazer perguntas. Os operários se revezavam em turnos de dia e de noite, incluindo os fins de semana. Eram pagos em dinheiro. “Ajudei a fazer uma das varandas da casa principal. Me prometeram 800 reais, mas me pagaram 2 000 reais a mais só para garantir que a gente fosse mesmo cumprir o prazo, tudo em dinheiro vivo”, diz Cláudio Santos. “Nessa época a gente ganhou dinheiro mesmo. Eu pedi 6 reais o metro cúbico de material transportado. Eles me pagaram o dobro para eu acabar dentro do prazo. Era 20 000 por vez. Traziam o envelopão, chamavam no canto para ninguém ver, pagavam e iam embora”, conta o caminhoneiro Dário de Jesus. Quem fazia os pagamentos? “Só sei que era um engenheiro que esteve na obra do Itaquerão. Vi a foto dele no jornal”, recorda-se Dário.”
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