O texto a seguir é do jornalista Bob Sharp* e pela lucidez do mesmo, resolvi colocá-lo aqui.
1) Espionagem. Espionagem?
Esse assunto da espionagem americana pela Agência Nacional de Segurança (NSA) daquele país está dando o que falar. Indignação de todo lado, do governo brasileiro, da presidente Dilma, da imprensa de maneira geral – dá para perceber o estranho tom de ira e indignação no olhar dos jornalistas da TV Globo – e de muita gente. Só que o termo ‘espionagem’ me intrigou. Teria havido realmente espionagem na acepção da palavra, conforme fartamente descrita nos dicionários? Parece-me um tanto impróprio e, inclusive, não acho que tenha havido.
Ninguém se apoderou furtivamente de documentos brasileiros secretos, ninguém fez fotos de instalações militares ou civis estratégicas, não houve invasão de contas bancárias, ninguém teve a residência vasculhada na qual se encontraram provas de se tratar de um espião agindo no país. O que aconteceu, então? Simplesmente “escuta” das comunicações via internet e telefonia celular, numa mega versão do “Big Brother” vaticinado por George Orwell no famoso livro “1984”, de 1947.
É infantil achar que a nação mais poderosa do mundo e que sofreu no dia 11 de setembro de 2001 danos materiais e morais devastadores, juntamente com a perda de 3.000 vidas humanas, não montasse um esquema de inteligência sofisticado para detectar qualquer sinal de terrorismo nos quatro quadrantes do planeta. E é infantil também achar que o Brasil estava fora do rol ameaçador e que por isso não era necessário ver como as coisas andavam por aqui.
Inclusive, o governo americano tem o direito, por lei, de monitorar todo o tráfego da internet e da telefonia naquele que é o país democrático por excelência. Para quê? Segurança nacional. E não vá se pensar que com o avanço da informática os países destacados no cenário mundial não façam como os americanos.
Talvez o Brasil ficasse fora da vasculha plantetária se não houvesse a bajulação castrista-bolivariana de Luiz Inácio e agora Dilma; se não houvesse a bajulação a Mahmoud Ahmadinejad, do Irã (“o holocausto não existiu”); se o assassino e foragido da Justiça italiana Cesare Battisti não tivesse sido acolhido no país; se não houvesse a Comissão da Verdade – unilateral, por que não bilateral? –, para dar alguns exemplos de conduta apontada para o Mal. Talvez.
Nem preciso falar do “aluguel de médicos cubanos”, a imprensa não fala em outra coisa, a maioria reprovando esse formato totalmente desprovido do mais elementar bom senso, pagar o aluguel a Cuba em vez de remunerar diretamente os médicos mediante contrato de trabalho e observando a legislação trabalhista no país. Mais uma justificativa para os EUA monitorarem conversas e mensagens do governo.
O que veio à tona nesse episódio de “espionagem” é que não há mais como escapar da vigilância eletrônica. Mas, como diz o secular ditado, quem não deve não teme. E já que quem não deve não teme, qual seria o motivo de tanta indignação do governo brasileiro?
Será que o que não era para sair das paredes de concreto do Palácio da Alvorada, saiu?
Será que alguém em sã consciência acha mesmo que a soberania do Brasil foi ultrajada, como quer fazer crer o governo, só por causa da interceptação das comunicações, coisa que qualquer hacker de meia-tigela faz hoje em minutos?
Por outro lado, como eu adoraria ver a reação do nosso governo caso fosse descoberto que a Venezuela estava “espionando” o Brasil!
2) O pedido de desculpas de O Globo
Em meio a todo esse redemoinho de espionagem & indignação, eis que o jornal O Globo vem a público dizer que “constituiu um equívoco” o apoio das Organizações Globo o apoio à revolução de 31 de março de 1964. Quem ainda não leu o “equívoco” das Organizações Globo pode lê-lo aqui.
Os dois últimos parágrafos, que transcrevo, mostram que alguma coisa aconteceu ou está acontecendo no âmbito deste vasto complexo editorial: (os grifos são meus)
“Os homens e as instituições que viveram 1964 são, há muito, História, e devem ser entendidos nessa perspectiva. O GLOBO não tem dúvidas de que o apoio a 1964 pareceu aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa, visando ao bem do país.”
“À luz da História, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original. A democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma.”
Naquele começo turbulento de 1964 a democracia estava ameaçada, só não via quem não queria, e ela foi salva por si mesma através do dever constitucional das forças armadas de garantir a segurança e a ordem internas. Com efeito, pouco depois do restabelecimento da ordem no país saiu matéria na Seleções do Reader’s Digest intitulada “A nação que salvou a si mesma”.
No próprio texto do “arrependimento” das Organizações Globo é citada a invasão da redação do jornal por fuzileiros navais sob comando do almirante Aragão, apoiador de João Goulart. Que me conste, invasão de qualquer coisa sem mandato judicial não é coisa de democracia. Portanto, salvo melhor juízo, não havia outra saída senão a ação militar de 31 de março e que foi maciçamente aprovada pela população.
Permito-me, como cidadão e observador, comentar que há um estranho quê de simpatia das Organizações Globo pelo governo atual, como que querendo fazer média – falei antes em “tom de ira e indignação”, não falei?
Ao dizer que a democracia é um valor absoluto o texto de arrependimento acertou. Como o é o ser humano.
Que também se suicida.
*publicado originalmente no blog WWW.autoentusiastas.blogspot.com.br
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